Partir em caso de emergência
Sou uma pessoa cheia de medos:
Medo das alturas
Medo de não ser capaz
Medo de me revelar insuficiente
Medo de ser abandonada
Medo de falhar
Como se esta lista ainda não fosse suficiente, o tempo presente tem-me trazido ainda mais medos.
Medo de não poder abraçar
Medo do isolamento
Medo da doença (e da morte)
Medo de estar longe
Medo da estagnação
Medo da ausência
Se a segunda metade do Verão me deixou sair para aproveitar o sol e até algum afecto dum par pessoas de quem sentia falta, não acredito que consiga manter esta proximidade com aquilo e aqueles que me consolam até ao final do ano. Como uma sentença, mesmo que auto-imposta, tenho quase a certeza de que chegará o dia em que terei de decidir recolher-me, ou afastar-me, deixar de abraçar até de fugida. É provável que nem precise de restrições anunciadas na televisão, mas apenas da minha própria acumulação de medos, sublimados.
Conto as pessoas indispensáveis ao meu mundo com poucos dedos esticados, nunca fui de festas ou ajuntamentos, não bebo, gosto de ir cedo para a cama e sou ligeiramente claustrofóbica. Trabalho por conta própria, gosto que me deixem quieta a ler, a ver filmes lamechas e a ouvir música no conforto do sofá de casa ou da cama. Mas gosto demasiado de abraços e de passear sem destino para me sentir confortável dentro de quatro paredes por dias a fio.
O que é que faz uma pessoa como eu, que tem medo até da própria sombra, ao enfrentar a incerteza regente?
O inverno está aí, mas já comecei a compilar uma lista de pequenos consolos que me possam manter activa e motivada, à tona da água.
Que vidros podemos partir em caso de emergência?