Deu-me um achaque
E pronto, assim se passou um Verão (ou assim está ele a acabar…). Não correu nada como eu esperava, não fiz nada do que e como esperava, não escrevi nada como esperava. Em suma, foi um Verão sem grandes acontecimentos, sem altos ou baixos, apenas com um objectivo em mente: conseguir amealhar dinheiro para a faculdade através de um emprego.
Ao contrário do que tem acontecido em todos os períodos de férias que já tive na minha vida, nunca tive a oportunidade de me sentir entediada nestas últimas semanas, ou não regresse eu mais do que “morta matada” a casa, ao fim de um dia de trabalho, depois de onze horas sem ver a minha rica caminha nem sentar o meu rabinho ossudo no sofá fofinho cheio de pelos dos cães.
O que, para mim, acaba por ser realmente um problema de enorme gravidade é não vir cansada fisicamente, mas sim psicologicamente. Deste modo, as horas que passam desde que trespasso o portão até me ir deitar são gastas a procrastinar. Sim, eu até voltei a procrastinar, e nem sequer foi de livre vontade! Afinal, não existem lá muitas actividades que me dêem verdadeiro gozo que se possam realizar sem o mínimo de esforço intelectual: ler, escrever, arrumar o quarto ou até jogar Angry Birds. Dou por mim, com alarmante frequência, a mirar o ecrã do computador ou da televisão com a mente totalmente em branco, feita parva. Quando calha ir jantar a casa do Ricardo, praticamente só tenho tempo para comer, antes de cair desfalecida, sem forças, em qualquer encosto ou braços de quem me apanhe em pleno processo de low battery.
Escrever, está quieto. Não consigo reservar impulsos nervosos suficientes durante o dia para conseguir formular mais do que um par de linhas de seguida durante a noite. Não existissem os fins-de-semana ou pequenos textos escritos, esporadicamente, enquanto trabalho, e eu já estaria a entrar em paranóia (mais do que estou, pelo menos).
Ah pois, e os fins-de-semana, que não chegam para nada?! Ora é a mândria, ora é o tempo que passo com a família, ora é o tempo reservado para namorar: parece-me que nem chego a aproveitar bem esses momentos, tal é o estado de retardamento cerebral e de ansiedade pré-segunda-feira em que me encontro.
Eu só quero recuperar a minha sanidade! Não quero continuar a acordar como quem vai ser imediatamente reencaminhada para a morgue; não quero continuar a responder de forma torta a toda a santa criatura que não pareça compreender que EU ESTOU EXAUSTA E SÓ QUERO QUE ME DEIXEM EM PAZ E SILÊNCIO, CARAMBA; não quero ter de continuar a adiar encontros com os meus amigos e de invejar a liberdade que eles têm para sair à noite sem se preocuparem a que horas têm de se deitar, a liberdade que têm para fazer planos inesperados, enfim, a liberdade que têm para não perderem a sua identidade.
Porque é exactamente isso que eu sinto que me está a acontecer! Neste Verão, paguei as propinas do primeiro ano da faculdade, mas não fiz nada que me satisfizesse o ego. Mal tive tempo para respirar, quanto mais…! Nem sei o que seria de mim se para a semana não começasse já a trabalhar em part-time, cruzes-credo!
A duas semanas de retomar o estudo, de iniciar uma nova etapa da minha vida pessoal e escolar, nem consegui ainda assimilar todas as novidades que vou enfrentar. Falta-me o descanso, os momentos a sós, a dois, a três, a quatro e ao monte, falta-me a preparação e a reflexão, falta-me ter aquela pausa em sintonia com o resto do mundo, sem palpitações várias ou dores de alma desnecessárias.
Mas, acima de tudo, faltam-me horas de sono. É imperativo tentar acabar com as insónias… A começar agora. Por isso é que vou mas é ganhar juízo e deixar o resto das lamechices pseudo-filosóficas e introspectivas para outro dia. Isto só pode ser do sono.