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Procrastinar Também é Viver

Blog sobre trivialidades, actualidades e outras nulidades. E livros.

Dos outros #42 - edição especial com comentário

20.08.14 | BeatrizCM

Estou quase a acabar de ler um livro chamado Os Portugueses, do jornalista inglês Barry Hatton (que vive em Portugal há cerca de 28 anos). Este excerto é apenas uma das imensas pérolas que o autor refere acerca dos tugas - perdão, portugueses! - e só lendo o livro todo é que se acredita que, realmente, somos uma sub-espécie humana muito curiosa. Depois de passar 2 semanas a viver com pessoas doutros 4 países, não podia deixar de sublinhar que tudo o que o autor teoriza é verdade, provavelmente em todos os aspectos da nossa vida. Graças a estra grande obra-prima da literatura cultural, fiquei a conhecer-me muito melhor e aos meus compatriotas (pronto, pronto, mais opiniões no outro blogue, quando terminar a leitura).

Apesar de ser um bocadinho longo, aconselho-vos a lerem todo este parágrafo. Vale a pena!

 

Os portugueses tornaram-se adeptos de se irem safando, um talento para a adaptabilidade chamado «desenrascanço», aperfeiçoado por séculos de dificuldades. Trabalhos paralelos ajudam a manter as dificuldades à porta. Fora das cidades, as pessoas têm em geral um bocado de terra onde plantam legumes e, mesmo nas cidades, podem encontrar-se faixas de terreno plantadas no meio do trânsito intenso. A sociedade parece obedecer a regras informais. A ajuda vem da família ou dos vizinhos, ligados por uma rede informal que compensa as limitações do sistema. Não é o modelo da moderna UE, mas mais uma inspiração do passado. Arranjar alguma coisa que é precisa implica alguns telefonemas para amigos dos amigos - relações úteis chamadas «cunhas» - porque o Estado, pensam as pessoas, nunca vos dará nada de bom grado. Estas relações substituem os parâmetros do mérito e da justiça pois, dizem os portugueses, não se trata de «saber como» mas de «conhecer quem». E, esperando por um milagre como o regresso de el-rei D. Sebastião, os portugueses são os europeus que gastam mais, em termos relativos, na lotaria do Euromilhões. Tal como aqueles que afastam os receios de uma repetição do terramoto de 1755, estes jogadores depositam a sua fé na providência e apostam pouco na possibilidade de triunfar através da sua própria iniciativa. 

 

Barry Hatton, Os Portugueses

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(Mais memes tugas em http://memesportugal.blogspot.pt/.)

 

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