O fim de um ano sem resoluções
No início de 2021, não escrevi nem fiz resoluções de ano novo sérias. Penso que foi a primeira vez em muitos anos, uma vez que sempre adorei listas, fazer apontamentos e fazer planos. Fazer planos tem sido a minha forma de vida desde que me lembro, motivada pela minha avó a sonhar e a pensar nas opções para o futuro de amanhã ou para o futuro das próximas décadas - lembro-me de falar com ela todos os dias, quase em monólogo, sobre possibilidades e estrutura.
Ainda assim, não planeei o último ano. 2021 podia ser tudo e podia ser... nada. Pareceu-me demasiado arriscado, talvez despropositado, visto que 2019 já tinha sido, para mim, um ano absolutamente improvável, e que 2020 jamais faria parte dos nossos sonhos, pesadelos ou cenários colectivos imaginados mais rocambolescos. Sabia lá eu o que poderia acontecer em 2021!
2021 foi um ano improvisado. Eu sabia que não havia alternativa, senão contar com uma dose considerável de aleatoriedade. Aceitei a abundância de variáveis. Aceitei que seria um ano com muita necessidade de fé, sobre o qual eu pudesse encolher os ombros com frequência.
Mudei-me para Vila Viçosa, comecei a viver com o João e abandonei convictamente (com todo o gosto) qualquer ambição de voltar a trabalhar ou estudar em Lisboa nos próximos anos. Encontrei uma rede de apoio e carinho nos nossos vizinhos, habituei-me à calma e às dinâmicas de viver numa vila pequena, ganhei tempo (e lentidão) para escrever como nunca escrevi na vida, para deixar de me sentir ansiosa a toda a hora e para ser só eu, no meu espaço.
Finalmente, o meu espaço. 2021 foi o ano de fazer duma casa nova um lar, o nosso primeiro lar a dois - ou a quatro. Agora, é um lugar de paz. Depois de termos adoptado a Coffee Bean no final de 2020, vimo-la crescer de cachorrinha mais activa e teimosa de sempre, para jovem adulta esperta, querida e companheira. Lord Ennui continuou a ser o gato mais carismático, falador e impaciente (mas paciente com a Coffee) que nos poderia calhar. Os dois fizeram as delícias de quem passava por baixo dos nossos varandins.
Li 42 livros, entre os quais se encontram algumas releituras, vi poucos filmes e vi mais séries do que esperava. Quase não saí de casa, procrastinei imenso e decidi cometer a loucura de fazer uma pós-graduação ao mesmo tempo que o mestrado. Concorri a três prémios literários; ganhei o 3º lugar num e fui finalista noutro, que tive a oportunidade de apresentar num evento especial. Escrevi quase um livro inteiro, um sem número de contos e desafiei-me a publicar mais no blog. Dei aulas a pessoas extremamente interessantes, com os meus alunos aprendi muito sobre a língua portuguesa.
Descobri que trabalho demais e que preciso de ser mais branda nas expectativas sobre mim mesma. Descobri que me esqueço de descansar.
Comecei o ano a matar plantas e acabei o ano a gostar de as manter vivas. Passei o verão a fazer mantas em crochet para as minhas sobrinhas emprestadas, descobri que sou daquelas pessoas que sabem cozinhar por puro acaso, sem esforço, e ouvi montes de podcasts enquanto me dediquei a essas actividades. Fiz terapia semanalmente, remendei muitos buraquinhos na minha cabeça e aceitei que o que faz sentido para mim é viver numa espécie de caos organizado (e contido pelo João).
Pelo meio, conheci imensas pessoas (algo surpreendente para quem ficou muito tempo em casa). Fiz amigos e mantive amigos. E tanta coisa se passou na vida dos meus amigos, tal como na minha! Emocionei-me tantas vezes!
2021 não foi planeado. Fiz tudo de improviso e por intuição. Por isso, 2022 vai ser um ano um pouco mais regrado e pensado, que é para haver equilíbrio. Claro que já fiz uma lista e preparei o espaço para outras. 2022 tem de se tornar um ano com estrutura.
Estes são alguns dos meus 24 desejos para 2022:
1. Escrever um daily log;
2. Ver 30 filmes;
3. Ler 40 livros;
4. Fazer uma viagem sozinha;
5. Fazer escalada interior;
6. Começar a escrever a tese de mestrado;
7. Criar o podcast que tenho na cabeça há quase 2 anos.
Terminou um ano sem resoluções. O próximo será diferente, completamente diferente.