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Procrastinar Também é Viver

Blog sobre trivialidades, actualidades e outras nulidades. E livros.

O fim do "viveram felizes para sempre"?

01.03.15 | BeatrizCM

Ultimamente, tenho andado a lidar com estatísticas. Primeiro, por causa de um trabalho no curso de escrita de não-ficção; agora, por causa da cadeira da faculdade de Sociologia da Comunicação. E há estudos para tudo, sobre tudo. Se uma pessoa tiver curiosidade, qualquer pessoa mesmo, encontra facilmente informação variada acerca de qualquer aspecto da vida dos portugueses, dos europeus ou até da população mundial em geral. Desde que se analisem os dados a partir de uma perspectiva crítica e se saiba distinguir estudos da treta de estudos que valem a pena, os depositórios de estatísticas online (por exemplo, o site do Instituto Nacional de Estatística ou o PORDATA).

Hoje, enquanto eu procurava informação sobre os portugueses e as televisões, ou o meio pelo qual assistem aos programas televisivos, encontrei um estudo do mais comum possível, pelo meio da (má) filtragem: Número de divórcios por 100 casamentos em Portugal. Nem sequer é um estudo fora do comum, são estatísticas fáceis de obter... No entanto, os resultados deixaram-me perplexa:

casam.png

Como assim, mais de 70% dos casamentos, em Portugal, acaba em divórcio? Como assim, nos dias que correm, 7 em cada 10 casamentos não vão avante, não cumprem o "para sempre" implícito em toda a pompa e circunstância da cerimónia, da celebração ou simplesmente do acto de assinar os papéis?

Será que o "viveram felizes para sempre" perdeu a sua validade? Como é que as gerações mais novas ou vindouras podem continuar a acreditar no amor verdadeiro ou - pior - na estabilidade emocional, depois de se chegar a tais conclusões?

Reconheço que estou a colocar demasiadas questões, provavelmente a mostrar o meu lado mais sensível e fosquinhas no que toca ao amor e às relações humanas, mas é possível ficar-se indiferente depois de se saber que, em 2012, a taxa de divórcio no nosso país foi de 73,7%?

Na minha família próxima, o último casal mais ou menos perfeito foram os meus bisavós. Diz a minha avó que foram sempre os melhores amigos, que nunca lhes faltava tema de conversa. Pelo meio houve problemas, mas foram relativamente bem sucedidos, até que o meu bisavô faleceu um ano antes de eu nascer. De resto, as histórias envolveram sempre separações conturbadas, noivados cancelados, filhos levados na onda, facadinhas pelo meio... Nem os pais da maioria dos meus amigos conseguem manter casamentos 80% equilibrados, felizes. Sou uma romântica incurável, mas sem referências nem exemplos para os quais possa olhar em busca de alento. O amor contínuo, o companheirismo, a estabilidade, a confiança, a foleirice... Onde andam eles? 

É claro que mais vale só do que mal acompanhado, é claro que, quando já não resta nada por que lutar, por que esperar, o melhor é cada um ir para seu lado e seguir o seu caminho, talvez com outra pessoa com a qual se seja mais feliz. É claro que as estatísticas não reflectem muitos casos que são "mudos", que não são revelados nas estatísticas. As uniões de facto. Os namoros. Aquelas relações que não têm "expressão" oficial.

 

Seja como for, há que manter a mente em aberto, sem estereótipos, e limpa de estatísticas. Livre de maus exemplos, livre do que outros fizeram ou deixaram de fazer. Senão, como é que alguém se pode abstrair do histórico de família, do histórico nacional, do histórico - porventura - mundial? Há que ver o copo meio cheio, a todo o custo: cerca de 3 em cada 10 casamentos mantém-se. Com sorte, pode até acontecer que dois deles sejam constituídos por duas pessoas que são os melhores amigos um do outro.

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